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Tradições
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Crenças
Crença no Lobisomem
Esta crença muito antiga encontra-se quase em extinção. A fantasia do Lobisomem consiste no condão de certos homens, à noite, se transformarem em lobos. Os crédulos atribuem como causa de encantamento do lobisomem o facto de pertencer a uma família de sete irmãos.
Afirmam mesmo que “...certa altura, à meia-noite, um habitante da aldeia, na encruzilhada da praça picou um lobisomem na anca com uma agulha, quebrando-lhe o encantamento”. Todavia, a picada provocou-lhe deficiência numa perna.As Maias
Na véspera do dia 1 de Maio, à noite, as pessoas colocam as maias (giestas floridas) nas portas e janelas, para que “o burro não dê a patada” ou seja “o burro” neste caso simboliza a fome e os azares que ninguém deseja que entrem em sua casa. Acreditam que ao colocar as maias, ficam protegidos de todos os males (más colheitas, más condições climatéricas que causam prejuízos, doenças, etc). Ainda existe esta tradição nos dias de hoje.
Crença em S. Miguel
Segundo as pessoas mais idosas, existiu um santo chamado Miguel que foi uma pessoa abastada e que sempre que obtinha uma boa colheita, distribuía os seus bens pelos mais necessitados. Quando morreu, as pessoas passaram a ter muita devoção neste santo, razão pela qual, na altura das colheitas, se reza a este santo apelando à proteção das suas culturas.
Curas
Nesta região, as pessoas acreditam que se benzerem o coxo (inflamação cutânea provocada por bactérias bastante desconfortável que provoca feridas no corpo), este desaparece em pouco tempo e não se alastra. Esta crença é adoptada por pessoas de todos os níveis sociais.
A técnica consiste em aproximar o mais possível uma brasa ou uma faca ao local da ferida e pronunciar a seguinte ladainha:
“Eu te corto coxo, coxão
Eu te corto víbora, viborão
Eu te corto lagarto, lagartão
Eu te corto, ratoqueira, ratoquierão
Eu te corto, aranha, aranhão
Eu te corto cobra, cobrão
Eu te corto sarda, sardão
Cortado seja tudo com a faca do pão
Todo o bicho de má feição
Que tu não cresças, nem dobres o rabo com a cabeça
Em louvor da Virgem Maria, um pai-nosso
e uma salvé rainha de Nosso Senhor,
Que é nossa advogada e protectora”.Ventre Caído
Em tempos remotos, quando as crianças perdiam o apetite, os antigos atribuíam a doença, ao “ventre caído“ ou seja o abdómen ligeiramente deslocado. No sentido de ultrapassarem o problema, levavam as crianças junto de curandeiros que viravam as crianças ao contrário, juntando-lhes os membros inferiores. Se um destes membros estiver mais curto que o outro, pronunciam-se umas determinadas rezas, para que tudo volte ao lugar.
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Jogos Tradicionais
Os jogos populares transmontanos estão claramente interligados com a realidade rural de cada região. O homem que lança fora do campo onde trabalha a pedra que o estorva pode converter o lançamento num fim em si mesmo e assim, nasce o jogo do malhão. Isso quer dizer que os Jogos Populares se ligam ao trabalho, à experiência rural: são vivência e prazer.
Claro que derivam ulteriormente, para a exibição e a competição, mas sem corte do cordão umbilical que continua a ligá-los à vida do campo, o que já não acontece com os jogos mais refinados, de alta competição, onde aquela ligação se perdeu. Os jogos populares partem da realidade, para a realidade.
Os jogos tradicionais alijoenses, não fogem à regra. São produto de uma região ruralizada, uma região vitivinícola, de trabalho árduo que por natureza exige muito esforço físico.
Assim sendo, temos como principais jogos tradicionais:
- Jogo do Malhão ou da Malha, que antigamente se jogava nas tardes ensolaradas de Domingo, dia de descanso laboral, nos terreiros das aldeias. O jogo consiste em derrubar um pino com a ajuda das malhas (pedaços de pedra xistosa, achatada). Também se pode chamar Jogo do Fito. Muitas vezes as malhas são substituídas por malhas em metal.
- Jogo das Cordas, onde cada equipa puxa a corda para o seu lado, quem tiver mais força, ganha.
- Corrida de Sacos – Corrida onde os participantes se introduzem em sacos de serapilheira e tentam alcançar a meta.
- Jogo do Barril – Coloca-se um barril pendurado, o qual os participantes devem atravessar.
- Subida ao Pau Ensebado – coloca-se ao alto, um pau com 3 ou 4m de altura, previamente ensebado, o qual os participantes terão que subir para tentar apanhar o prémio que se encontra no topo: geralmente uma peixota de bacalhau.
- Jogo dos Cântaros – consiste numa corrida de burros, onde os participantes com uma vara, vão tentar partir os cântaros que se encontram suspensos. Normalmente estes cântaros encontram-se recheados de algumas surpresas: água, farinha, farelo, etc.
- Jogo do pião
- Jogo do Pau
- Jogo da Farinha/farelo
Actualmente, já não se praticam este tipo de jogos nas povoações do concelho, ou então muito esporadicamente em algumas das aldeias mais antigas ainda se pratica o Jogo da Malha ao domingo. Ou então, quando se organiza algum campeonato de Jogos Populares, nos quais as gerações mais antigas fazem questão em participar.
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Lendas
Alijó é um concelho de grande tradição religiosa que vem já de à longa data, motivo pela qual as diferenças das lendas entre as várias povoações que compõem o concelho não serem significativas. Todas elas retratam os mesmos temas: as histórias de princesas fidalgas, os tesouros, os encantos e as crenças religiosas.
Apesar da fantasia existente em algumas, essa é misturada com factos inquestionáveis, que poderão estar relacionados com o facto de, certos valores tidos como a maneira correta de agir e de pensar não se percam e continuem a ser tidos como os melhores, para as futuras gerações.
Uma das lendas mais conhecidas pelas gentes desta vila prende-se com a etimologia de Alijó. Para além de várias teses que fundamentam a proveniência do nome de Alijó, aquela que as pessoas mais gostam de aceitar, é o facto de após o domínio romano nesta vila e com a conquista da mesma pelos mouros, foi senhor dela um grande chefe árabe chamado – Ali-job - o qual fez questão de atribuir o seu nome a esta vila, que com a evolução do termo culminou em Alijó.
Lenda dos Sinos Trocados
“Quem tiver o ouvido afinado para a música poderá entender esta lenda melhor que ninguém. Bastar-lhe-á jornadear ate ao Alto Douro, ao concelho de Alijó, e visitar as aldeias de Carlão e Ribalonga. E quando repicarem os sinos, logo perceberão que o primeiro clama por Ribalonga e o desta por Carlão. Mas, o que se passa?
É que os sinos foram trocados numa oficina de concertos em Braga e o comodismo dos homens não consentiu na reparação do erro. “O serviço é o mesmo”, terá comentado uma voz. E assim ficou.Os sinos é que estão desgostosos e lamentam a sua sorte! Verificarão que hoje estão afinados, aliás a lenda diz que já antes do episódio que se vai narrar eram afinadíssimos. Ora virá-lo quando o repicavam, puxando os rapazes a corda, era sinal de força! No entanto, os sinos fartam-se, racham, envelhecem, quase como as pessoas. Pelo menos alguns. E aconteceu isso a ambos os sinos das duas aldeias.
Na oficina de Braga, como se disse, puseram-nos como novos, mas trocaram-nos. Após ligeira discussão inicial, concordaram as partes, que o fundamental era que repicassem. E isso fazem-no, ainda que de som trocado. E assim continuam hoje, que ninguém os repôs nas torres de origem...
E há outra lenda, a da Nossa Senhora da Boa Morte do Pópulo. Pois diz que Nossa Senhora, achando que a freguesia de Vila Verde era uma aldeiazinha agradável, em que podia viver, andou até ao cabeço conhecido como das Bilheiras, para ficar com outra perspetiva. Porém, ao ouvir como discutiam entre si as mulheres na fonte, fugiu para o Pópulo!
No entanto, podemos conhecer ainda outra lenda de Ribalonga, referente ao seu lugar de Santa Ana. Pois neste lugar há uma fraga enorme, retangular, tendo na parte superior três sulcos, o da cabeça, o do tronco e o dos membros de uma pessoa. A voz do povo, essa mesma voz que escreve as lendas, linha a linha, diz que esses sinais foram ali deixados por Santa Ana, quando andavam em peregrinação aos Lugares Santos.
Pois a lenda faz-nos saber que Santa Ana, cansadíssima, não vendo outro sítio para se deitar, aproveitou aquela fraga. E a pedra tornou-se então mole para ficar mais confortável, tomando mesmo a forma do seu corpo. E no dia seguinte, logo ao amanhecer, repostas as forças, meteu-se a santa a caminho. Do texto da lenda não consta que alguém a visse, mas quer-nos cá parecer que testemunha deve ter havido, doutro modo...
Pois, saindo a Santa, pela fraga começaram a passar as pessoas que iam para os seus trabalhos, reparando nos sulcos, ficaram admiradas. Alguns voltaram a Ribalonga dar a notícia. E logo ali se juntaram umas dezenas de pessoas a discutir o fenómeno. Como é que chegaram à conclusão que fora Santa Ana, de quem eram devotos? Não se sabe. Testemunha que não quis declará-lo? De qualquer modo, aquele monte onde está a fraga ficou a ser conhecido como Monte de Santa Ana.”
Vale Moutinho
Lenda do Cruzeiro Vermelho
Conta-se que há umas dezenas de anos atrás, na freguesia de Ribalonga, um senhor da família Sampaio cujos descendentes ainda residem na aldeia, vindo da feira de Vilar de Maçada, trazia com ele alguma carne. Foi perseguido por uma alcateia e como é de calcular o senhor Sampaio ficou muito aflito pois percebeu que os lobos estavam famintos.
Quando chegou perto da povoação, os lobos começaram a apertar o cerco. Quando se viu perdido, desceu do cavalo, ajoelhou-se e pediu com muita fé ao Senhor dos Aflitos que o salvasse dos lobos. Nesse instante, os cães que este senhor possuía em sua casa, começaram a ladrar desalmadamente e a esposa foi soltá-los. Estes, correram para o local onde estava o seu dono e afugentaram os lobos.
Feliz e em sinal de reconhecimento, o senhor Sampaio mandou construir um cruzeiro no exato local onde suplicou por auxílio os Senhor dos Aflitos. Dos dois cães, só um apareceu vários dias depois, completamente ferido. Dizia-se que a sua dona matou algumas galinhas para curar o animal.
Este cruzeiro ainda se encontra atualmente no preciso local onde foi colocado, a sul da aldeia de Ribalonga intitulado de Cruzeiro Vermelho, devido à tonalidade da pedra em que está construído.
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Tradições de Carnaval
O Carnaval é celebrado com bastante intensidade e de diversas formas por todo o concelho, desde tradições trazidas pelos nossos antepassados, até às formas mais modernas, é uma festa que continua ativa nas gentes da nossa região.
Casamentos ou Pulhas
Localidade: Presandães - Alijó
Entre as 22 horas e a meia-noite de terça-feira Gorda, colocam-se alguns rapazes em pontos fronteiros, geralmente dois montes, entre os quais fica a aldeia.
De cada um dos lados fala-se alto e em regra por um grande funil. As falas incidem, quase sempre, sobre as raparigas casadoiras e as solteiras, tratando-se os que falam por compadres. Por exemplo:- Ó compadre?
- Que é de lá?
- Vamos casar a Joaquina da Eira?
- Pois vamos: já são horas de ela ir à igreja. Até se dizem para aí umas coisas...
- Então com quem a havemos de casar?
- Olha: casamo-la com o macho velho do Tio Augusto.
O noivo, neste caso, é uma invenção jocosa, mas pode ser um rapazinho galante ou outro qualquer. O diálogo dava por vezes origem a zaragatas, como é de prever. As Pulhas, um costume do Alto Douro, ainda se usa em algumas localidades, como é o caso de Presandães, mas tem vindo a cair em desuso. Registe-se que a palavra Pulha tem entre outros o significado de gracejo.
Ao outro dia toda a gente comenta os fictícios casamentos, dos quais alguns dos previstos, acabam mesmo por se realizar.
Enterro do Entrudo
Localidade: Pinhão, Vale de Mendiz, São Mamede de Ribatua, Presandães
Na terça-feira de Carnaval, faz-se o Entrudo, de nome “Laranjeira”. (consiste num boneco de palha, vestido com roupas velhas). Este boneco vai sendo carregado pelas principais rua da aldeia, dentro de um caixão, acompanhado pelo “padre” e várias pessoas em procissão, vestidas de luto e com velas na mão, chorando o falecido.
Durante o trajeto ouve-se:
- Ai meu rico Laranjeira!
- Orai por nós e domine.
- Quem irá cavar as terras que ele deixou?
- Livre de nós e domine.
- Quem irá comer os salpicões que ele deixou?
- Nós e nós e domine.
No final e no largo da aldeia, é feita a despedida queimando o Entrudo Laranjeira e atirando-lhe bombas e tiros.
Esta tradição realiza-se também em outras localidades do Concelho e embora cada uma delas lhe dê o seu cunho próprio, a atividade mantém praticamente as mesmas características. Em algumas aldeias, todos os anos se fazem quadras novas alusivas à morte do Entrudo e à sua mulher, agora viúva que fica a chorar o falecido, e onde se lê o testamento, em versos satíricos, alguns alusivos à política local.
Em certos lugares suspendem-no de uma árvore, a dar uma ideia de Judas e põem-lhe bombas dentro para o desfecho ser mais espetacular.
Desfile de Carnaval
Localidade: Pinhão
Na freguesia de Pinhão, realiza-se já há cerca de 25 anos a esta parte, o típico desfile de Carnaval, com características mais modernas, mas que não deixa de ser interessante e ao qual todos os anos centenas de pessoas acorrem para ver.
É um desfile que acontece na tarde do domingo gordo e depois no próprio dia de carnaval e, conta com a participação de muitas freguesias do concelho, as quais levam o seu carro alegórico e satirizam da forma mais criativa que encontrarem. Os preparativos fazem-se com bastante antecedência, com fatos preparados a rigor e carros bem imaginativos para uma tarde de folia e diversão.
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Tradições de Natal
Fogueira de Natal
É uma tradição bastante antiga, que se crê remontar à época Celta. A Fogueira de Natal já se tornou um ritual na Vila de Alijó. Uns dias antes do Natal, um grupo de pessoas vai recolhendo lenha que é amontoada num local central da Vila. Na noite de 24 de Dezembro, depois da Missa do Galo, a fogueira é acesa e é tradição as pessoas reunirem-se até tarde, à volta dela, para se aquecerem e conviverem durante algumas horas. Antigamente, as pessoas só regressavam a casa de manhãzinha, quando a fogueira se apagava.
Cantar dos Reis
Os reis comemoram-se desde o dia 3 até ao dia 6 de Janeiro. Vários grupos de pessoas percorrem as vilas e aldeias, cantando os reis de porta em porta ao som de violas, ferrinhos, pandeiretas, flautas, etc.. Chega a haver uma certa disputa entre vários grupos para ver quem canta melhor.
As famílias, em casa, vão pondo a “mesa”, que é composta por bolos tradicionais, frutos secos, aletria, salpicão, presunto, entre outras coisas, e para acompanhar é habitual servirem vinho generoso desta região: o vinho moscatel. É também costume os cantores de reis receberem uma compensação monetária.
Ainda agora aqui cheguei
Mal pus o pé na escada,
Logo o meu coração disse
Que aqui mora gente honrada.
Quem diremos nós que viva
Por cima do laranjal
Desta porta para dentro,
Vivam todos, em geral. -
Tradições de Páscoa
Em Alijó, a Páscoa, sendo uma festa de carácter religioso, ainda se comemora em todas as localidades do concelho. Há tradições que perduram e que as pessoas orgulhosamente cumprem e querem manter. Alguns exemplos que se seguem são prova disso mesmo.
Encomendação das Almas
Localidade: Castedo e Vale de Mendiz
Mantendo uma tradição muito antiga, e para não se perder o hábito, é costume durante as sete semanas da Quaresma juntarem-se várias pessoas no local mais alto de cada aldeia e aí “encomendam as almas”. Estes cânticos são feitos à noite quanto mais tarde melhor, diz ainda a tradição que uma vez começados não devem ser interrompidos.
Na última noite (Sábado Aleluia) o grupo dá uma volta pela aldeia, onde há catorze cruzes e em cada cruz cantam um verso.
Acordai ó irmãos meus
Deste sono tão profundo
Que lá vos estão chamando
As almas do outro mundo.
(Reza-se mais um Pai Nosso e uma Avé Maria pelas almas do Purgatório)
Acordai ó irmãos meus
Deste sono em que estais
Que lá vos estão chamando
As almas dos nossos pais.(Reza-se mais um Pai Nosso e uma Avé Maria pelas almas dos nossos pais)
As contas do meu rosário
São peças de artilharia
Dão combates no inferno
Quando diz Avé Maria.O Compasso
Localidade: Todas
O compasso é uma das tradições que existe pela Páscoa. Por volta das duas da tarde, reúnem-se as pessoas que vão acompanhar o compasso. Uns levam a cruz, outros a sineta, as cestas, por entre outras coisas, todos vestindo opas. Os restantes acompanhantes cantam Aleluia ao Senhor que ressuscitou.
Nas casas, as pessoas ultimam os preparativos, decorando as escadas com flores, arranjando a mesa com as melhores iguarias que têm em casa. Finalmente, chega o compasso, por entre aclamações e boa Páscoa, o padre espalha água benta, dando depois a beijar a Santa Cruz, um dos acompanhantes retira as ofertas e no fim todos se cumprimentam.
Páscoa na Aldeia de Favaios
Localidade: Favaios
Antigamente, na aldeia de Favaios, era costume, enquanto se esperava o padre, juntar-se as pessoas na rua e jogar um jogo conhecido pelo “ Jogo das Panelinhas”.
Eram panelas de barro que as pessoas pediam pelas portas. Atiravam-nas de uns para os outros, até que caíam no chão e se partiam.Folar
Outra tradição interessante nesta e noutras freguesias era a forma como era oferecido o “folar” ao padre. Se agora se oferece dentro de um envelope, antigamente, como geralmente eram utilizadas moedas, estas eram espetadas numa laranja que se colocava em cima da mesa. Ainda hoje há quem coloque a dita laranja junto ao envelope contendo a quantia monetária que bem se entender oferecer.
A Queima do Judas
Localidade: Favaios
Trata-se de um ritual pagão antigamente chamado de “serração da velha” que posteriormente adquiriu a sua forma cristianizada, intitulando se “ Queima do Judas” e simboliza a traição de Judas Escariotes a Jesus Cristo. Realiza-se em Favaios sempre no Domingo de Páscoa. Ao final do dia, assim que os foguetes anunciam o final do “compasso” - visita Pascal, as pessoas da vila dirigem-se para a Capela do Senhor Jesus do Outeiro para assistir à Queima do Judas.
É um boneco de papel, armadilhado com fogo pirotécnico para poder rebentar e no fim queimar. O boneco vai girando, ao mesmo tempo que as suas partes do corpo rebentam, ficando a cabeça para o final, numa evocação do enforcamento de Judas.
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Tradições Durienses
As Vindimas
Há alguns anos atrás, por ocasião das vindimas, juntavam-se ranchos de mulheres a cortarem uvas, logo pela manhã. Deitavam-nas em cestos altos, chamados vindimeiros, que os homens transportavam às costas para os lagares, durante o dia. Após as refeições regressavam aos trabalhos e ao mesmo tempo que cortavam as uvas, cantavam lindas canções, tais como:
Chora a videira,
chora a videirinha;
chora a videira,
ó prenda minha!Chora a videira,
a videira chora,
pelo meu amor,
que se vai embora!Ao pôr-do-sol regressavam a casa, ainda a cantar. As mulheres arrastavam as suas socas, com saias pelos pés e o lenço na cabeça. Os homens, depois da ceia iam para o lagar pisar as uvas, descalços, com as calças arregaçadas por cima dos joelhos.
Esta tradição ainda persiste e ainda hoje existem excursões de turistas que visitam as quintas no Douro para verem as tão famosas “ Lagaradas”.
Roga
A roga é o conjunto de pessoas que se contrata para trabalhar na vindima. Podem ser homens, mulheres e/ou crianças e normalmente ficam apalavradas pelos donos das Quintas de uns anos para os outros.
As rogas vêm, ainda hoje, em grande parte das zonas vizinhas do Douro, onde as vindimas e as colheitas estão terminadas, onde pagam menos do que no Douro. Há rogadores que vão para as mesmas Quintas durante 20, 30 anos e mais. Os contratos de palavra bastam, ano após ano, para manter fidelidades.
Mata-Bicho
As refeições dos trabalhadores durienses devem ser bastante energéticas, para lhes permitir aguentar o trabalho árduo que é a vindima. Antigamente usavam-se os cestos vindimos para transportar as uvas para o lagar.
Assim existe a tradição de “matar o bicho” logo pela manhã, o que significa comer um caldo à lavrador – sopa de feijão vermelho carregada de legumes de forma a ficar bastante consistente e comer o famoso bacalhau frito com pão.
Lagaradas
As lagaradas é o ato de pisar as uvas no lagar. É uma operação demorada, feita normalmente por homens e pode durar três ou quatro horas, pois deve ser feita de modo ritmado, por filas compactas, ao som da voz de comando, a fim de trabalhar uniformemente as uvas.
Durante este trabalho, as mulheres que observam, cantam, dizem graçolas ou descansam. Há sempre o som de uma concertina e toda gente cantarola as canções do folclore duriense.
Depois, à meia-noite, uma ou duas da manhã, tudo vai dormir nos cardenhos ou cardenhas: tradicionalmente separados homens e mulheres, mesmo os casados.
Fim da Vindima
A vindima acabou. O resto é lavar tudo, os cestos, lagares, máquinas e chão. No último dia, sobretudo nas quintas que recebem rogas, há festa: dança-se e canta-se à desgarrada. Os vencimentos são pagos. Os proprietários mostram-se aos trabalhadores.
Às vezes há presentes. Come-se rancho melhorado e bebe-se muito.
Ramo
O ramo, é um presente que as rogas oferecem no fim da vindima, aos proprietários das quintas, como forma de lhes agradecer a hospitalidade e também como forma de agradecer os salários que estarão preste a ser pagos. Este ritual é normalmente acompanhado por uma grande festa onde as rogas cantam e dançam e onde se come e bebe à farta, oferecido pelo patrão.
O ramo é constituído por flores do campo (oliveira, medronho, alecrim e outras flores outonais) a originalidade dos ramos já depende de quem os concebe. O que está em causa é a intenção, que é sempre das melhores.
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Tradições Gastronómicas
Matança e Desfeita do Porco
Outra das grandes tradições deste concelho, que se pratica praticamente em toda a região transmontana, entre os meses de janeiro e fevereiro, é a matança do porco.
A carne de porco é a fonte de sustento de muitos lavradores, cujas posses monetárias são escassas. É muito mais rentável criar o porco em casa, de preferência bem gordinho, e lá pelo início do ano matá-lo e mete-lo numa caixa com sal, onde se conservará praticamente por todo o inverno.A altura da matança deverá ser feita de preferência na altura mais fria do inverno, para que as carnes não se estraguem. A matança é um processo que segue os seguintes passos:
Agarrado por homens, o animal é levado para um banco de pedra ou de madeira, onde o sangrador o mata com um certeiro golpe dado na goela com uma faca, cuja lâmina tem cerca de palmo e meio de comprimento e habitualmente lhe acerta no coração.
O sangue corre às folgadas e é aparado pela mulher da casa, num alguidar onde antecipadamente tinha colocado umas tantas cabeças de alho picado, sal e um pouco de vinho tinto. O sangue é imediatamente posto num pote com água a ferver, onde coze durante algum tempo.
Entretanto, enquanto o sangrador com maços de palha vai tisnando o corpo já morto do animal, os outros homens com facas velhas (farruscas) vão raspando a pele. O animal é de seguida lavado com água fria e depois pendurado de cabeça para baixo, normalmente em compartimentos frios. Sob o focinho, no chão, um tacho, para onde vai escorrendo o pouco sangue que o animal ainda deita.
Dois dias depois, o mesmo sangrador procede à desfeita do animal. Aberto, esquartejado, rasgado, em três tempos o porco transforma-se em pedaços de carne distribuídas pela salgadeira. Presuntos, pás, ossos, unhas, focinho, orelha e lombos transformados em salpicões, linguiças, alheiras, chouriços, ao longo do ano fazem as delícias de todos.
Todo este ritual envolve muita gente, muita alegria, e no dia da desfeita faz-se uma festa, onde já se come alguma carne do porco, assada na brasa.
Pão de Favaios
No concelho de Alijó, mais concretamente na freguesia de Favaios, existe um costume já muito antigo, no que se refere à feitura do pão. É um pão típico, único no país e de inigualável sabor. Chama-se trigo de quatro cantos, é um pão à base de farinha de trigo, mas com a particularidade de ser cozido em forno de lenha, o que lhe transmite aquele sabor peculiar.
Antigamente, os padeiros ou padeiras coziam o pão e partiam de madrugada em cavalos ou burros, carregando enormes cestos de trigo, onde em alguns deles carregavam muitas vezes os filhos, e lá iam vender o trigo diariamente para terras longínquas onde não se fabricava pão.
Atualmente, nesta freguesia, ainda se encontram algumas padarias com fornos a lenha, mas a tendência é para os fornos a eletricidade, pois é necessário ir ao mato cortar lenha para o forno. Em Favaios, as padarias são conhecidas pela sua concorrência, já que cada uma delas insiste em afirmar que fabrica o pão mais saboroso.
De qualquer das formas, todas elas saem a ganhar, o trigo de Favaios é uma autêntica riqueza desta região. Também nestas mesmas padarias se confeciona a famosa bola de carne que é tão apreciada.